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NOIATT ‘CAMOMILA’ BEAT TAPE
ENTREVISTA
8 AGOSTO 2021
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Artwork por NOIATT
Antes de mais, quem é NOIATT? Fala-me um pouco sobre ti, pessoa e artista.
Noiatt, para os amigos Noia, é um produtor e MC de Lisboa que se tenta focar em gerar criatividade em cada release, sejam eles de instrumentais ou de instrumentais com voz. Não gosto de dizer que faço hip hop pois acho que o gênero está bastante parametrizado. Este álbum de instrumentais é hip-hop mas não cai diretamente em nenhuma das vertentes do mesmo. Há instrumentais para todos os gostos.
Que meaning atribuis ao título do álbum, tem alguma relação directa ou indirecta com as faixas?
Pode-se dizer que este álbum “Camomila” é uma sequela ao meu primeiro álbum de instrumentais intitulado “Sono”. Maioria destas faixas são criadas antes de ir dormir, por isso é que atribuí estes nomes aos álbuns. Mais precisamente, “Camomila” vem de chá de camomila, que é um dos chás que costumo beber antes de dormir (not a deep meaning ahahah). Estes meus trabalhos de instrumentais são sempre mais “laid back”. A maioria dos instrumentais são sampled based e alguns têm características lo-fi. A escolha dos samples é cuidadosa, tento escolher samples que façam embalar o ouvinte, por isso sim, o título tem uma relação indirecta com as faixas.
Numa das nossas conversas acerca deste projecto referiste que este seria certamente o reflexo das últimas abordagens à vertente mais old school do hip hop, será a última vez que te ouviremos num registo mais boom bap ou trap?
Como produtor para mim, sim. Não nego totalmente a possibilidade para outros.
Como disse na primeira pergunta, acho que o hip hop está bastante parametrizado, tanto que só tenho vontade de fugir desses parâmetros.
Fotografia por Tony Sousa
Qual foi a abordagem técnica na produção destes temas, usaste algum software ou hardware para a concretização desta beat tape?
Sou fiel ao meu Ableton, mpd18 e Arturia keystep. Não necessito de mais. Tento ser o mais minimalista possível. Se achar que falta algum som posso gravá-lo com o microfone.
Acho que o “truque” neste tipo de beat tapes é reinventares os samples à tua maneira, e fazeres com que saia dali uma música. Eu sei que parece básico e simples, mas quantos de nós se depararam com samples onde não conseguimos fazer nada com eles? Exacto.
Conversámos também acerca do processo de transição que ocorre actualmente na tua produção, acho que podemos também referir que se trata de uma fase de exploração que poderá vir a definir a tua música nos próximos tempos certo? Falaste-me de footwork numa vertente que transpõe muito mais a presença da electrónica, em comparação com o que foi feito em ‘Camomila’ como explicas esta transição, o que te fez conectar a este gênero?
Como MC, vou continuar com drums quebradas, fora de tempo, e arranjos feitos por mim utilizando VSTs de sintetizadores antigos. Não te consigo definir isto num “estilo”, mas a cadência grime é a que se apropria mais.
Quanto ao meu projecto paralelo de electrónica, ainda a estrear, com o nome Kloser2kold, vai ser baseado numa mistura de footwork com elementos mais techno. Não me vou somente cingir ao footwork, mas sim, navegar entre o jungle, rave e ritmos mais quebrados.
Essa influência estará presente nos meus próximos releases como MC.
Existe alguma divisão entre o NOIATT que faz beats e o NOIATT que faz Rap ou sentes que são duas vertentes das quais consegues fazer uma gestão de forma a complementarem-se positivamente?
São duas narrativas diferentes.
Como produtor, para mim, a narrativa é sempre aproveitar aquilo que não foi usado e criar uma história à volta disso.
Como MC, é reinventar-me constantemente e fazer algo diferente daquilo que já fiz. Constante evolução. Quero ser relembrado como “aquela vibe tipo sons de Noiatt”.
Fotografia por Tony Sousa
Visto que no teu mais recente álbum ‘Simulacro’ foi possível ter uma forte referência do teu skill enquanto produtor e MC, sempre existiu essa necessidade de produzires os teus próprios instrumentais?
Acho que é essencial na minha obra. É o whole package.
Para além de ter controle sobre tudo, tenho a possibilidade de criar o meu mundo.
Num projecto como MC mais de metade do conceito é transmitido pelos instrumentais, e é o que tento fazer nos meus projectos. A narrativa também é contada pelos mesmos, sem palavras, os instrumentais já têm que falar por si.
E como já disse anteriormente, sendo eu o produtor, tenho a possibilidade de fugir aos padrões com maior destreza.
Sabendo que existe sempre algum tipo de influência directa ou indirecta na obra de um artista, consigo observar que existe uma componente estética bastante relevante na forma como encaras a tua música, desde os kicks e snares mais slappy, das texturas circundantes, às linhas de 808 com switches de glide e portamento que por fim moldam o comportamento das tuas batidas para um sentido mais orgânico, sempre mantendo características determinantes da electrónica, tens alguma
referência para este tipo de abordagens, algum artista ou artistas que te tenham influenciado a explorar estes campos?
Um dos artistas que me influenciaram mais recentemente, principalmente para o “Simulacro”, foi o EL-P (Run the Jewels). Acho que a produção dele no “The Cold Vein” do Cannibal Ox é super criativa e futurista.
The Streets (Mike Skinner) também me influenciou recentemente pois não vê qualquer tipo de barreiras. As melodias são icônicas e irreplicáveis.
De resto tenho sido bastante influenciado por música grime, electro, breakbeat, e música electrónica no geral.
No entanto, nada destas influências tiveram impacto no “Camomila”, isto é mais uma homenagem ao hip-hop.
Desde os teus primeiros lançamentos ‘O Eremita’ e ‘Sono’ que mudanças se deram desde então e o que podemos esperar de NOIATT no futuro?
Fui evoluindo como produtor, escritor e como pessoa principalmente. Os objetivos em cada lançamento são completamente diferentes, no entanto em cada um deles tento expelir os meus sentimentos da melhor maneira possível.
Quero ser um artista imprevisível que contém o elemento surpresa nele, e com ele poder criar magia.
Os meus primeiros lançamentos foram um caminho de aprendizagem, um caminho que nunca irá acabar, mas o meu skill na altura era limitado. Atualmente não vejo barreiras na criação.
NOIATT - CAMOMILA
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