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DUALUS EDITA ‘À LUZ DO FAROL’
’Novo álbum de estreia do artista através da Slow Habits’

3 Junho, 2022


À Luz Do Farol é o álbum de estreia de Dualus, através da Slow Habits.

Uma obra de cariz muito próprio em que o artista torna clara a evidência de uma destreza natural e distinta para o ritmo e as suas arritmias, álbum que é derivado de uma exploração incessante e paciente, apresenta o resultado de uma mentalidade criativa e espontânea. 

Introduz-te por breves palavras. Quem é o Dualus?

É uma pessoa que apenas sente uma necessidade quase primal de conhecer, e partilhar o conhecimento. A dualidade surge da normalidade possível, entre ser, apenas, e ser humano; a expressão através do veículo artístico começa e acaba na tentativa e ânsia de expressar algo mais concreto do que apenas símbolos ligados de forma coerente, familiar, mas sim emoções, ideias, paisagens mentais que nos mostrem formas menos convencionais de percepcionar o mundo, para também eu poder expandir e moldar-me continuamente a ele, de dentro, para fora. 

Fala-me um pouco sobre o álbum: Qual foi o tema de partida para a concepção deste projetoPorquê a escolha do título?

No ponto de partida, como expliquei, não havia um tema particularmente estabelecido. Ao longo do tempo fui-me apercebendo da linhagem natural das faixas que estava a criar, e das ideias que iam fluindo. Honestamente, só depois de todas as faixas estarem terminadas é que pude fazer algum sentido de como é que as faixas me refletem a mim. O título surge exatamente disso, duma realização que sou totalmente um produto daquilo que me antecede, e daquilo que me sucede, tendo em conta que o farol é, literalmente e figurativamente, um pilar de luz que emana para nos dar claridade, e um caminho para a costa, durante a noite, no mar.

Fala-me dos elementos da capa. Existe algum simbolismo face aos elementos dispostos no Artwork? Qual a simbologia de toda a componente visual do projeto?

Se falasse diretamente penso que estaria a estragar a experiência do ouvinte ao dar azo à sua interpretação própria, que por vezes pode ser bastante diferente da intenção original do criador. Mas posso dizer que a capa está intimamente ligada com o conceito em si, todas as peças servem para adicionar detalhe à história, de uma perceção que pode estar à luz do farol. O alto mar é bravo e nós exploramos incessantemente. Mas o nosso lugar é na costa e temos de voltar eventualmente. A luz é um guia a ajudar-nos a voltar. E no caminho da luz o materialismo arde. E mais não digo! 

 
 

Qual foi a abordagem técnica na produção destes temas, usaste algum software ou hardware para a concretização deste álbum?

Em termos de software, uso apenas um DAW, o FL Studio, junto com os vários VST's que isso implica. Em termos de hardware tenho uma MPK mini para poder ter alguns controlos MIDI, embora queira expandir, e alguns instrumentos que fui e vou adquirindo ao longo do tempo, guitarras e diversas percussões aleatórias. Depois, tenho alguns equipamentos de captação, um microfone, para captar sons com boa fidelidade, e um gravador de áudio da tascam para captar todo o tipo de ambientes e percussões com objetos incomuns, takes com instrumentos quando quero uma sonoridade menos polida, entre outros sound bites que possam posteriormente ser úteis, basicamente ando sempre com o recorder comigo a todo o lado onde vou porque nunca sei onde vou encontrar novas texturas. 

Há algo bastante evidente na tua produção, tem um cunho muito próprio e distinto. Por breves palavras, como abordarias o teu estilo de produção? Quais as tuas influências elementares que te fizeram de alguma maneira chegar a este ponto atual e explorar este tipo de sonoridades?

Definiria o meu estilo de produção muito na base improvisacional. Começo a maioria das vezes com uma ideia base, melódica ou rítmica, e quando surge, vou progressivamente experimentando, num processo de desconstrução da ideia original, tentando impor outras direções, às vezes ficando só horas no dito noodling, que também é bom para mim porque é uma experiência da qual derivo grande prazer, poder ter essa intimidade breve com uma ideia tão rudimentar como três notas e conversar com ela, extraindo a informação dessa conversa para ir desenvolvendo a composição. Sem qualquer tipo de ideias pré-concebidas, e apenas perseguindo um som específico, sempre que não me sai da cabeça. 

Ao nível de influências sem dúvida os meus pais tiveram um papel enorme na formação do meu ouvido, em primeiro lugar, pois sou antes de tudo um ouvinte incessante de música. Desde pequeno os meus pais fizeram questão de me passar essa sua herança cultural, e tínhamos sempre a música a rebentar nas colunas do carro, em casa, na praia, sempre uma seleção tão variada e sempre tão localizada na nostalgia da era deles. Esse foi o veículo que sem dúvida me permitiu posteriormente percorrer a viagem que na adolescência me assolou, onde também por força da curiosidade, fui experimentar tudo aquilo que não tinha visto ainda. E continua até hoje. Sinto que não consigo passar um dia sem ouvir algo que nunca ouvi antes. E essa prática foi-me incutida já de trás, o amor pelo som depois propaga-se de forma natural a partir do momento em que sinto que tenho de expressar algo, e é nessa encruzilhada que coisas como este projeto acontecem.

Neste momento, a sonoridade que pretendo explorar, também neste projeto, advém da necessidade de exprimir uma paisagem sonora como um organismo, fluído, próximo de nós, e ao mesmo tempo por vezes a futuros de distância. Daí assentar e persistir tanto em gravar takes inteiros em vez de gravar patterns e repeti-los por n barras, mesmo por necessidade de evocar um sentido de impermanência, mesmo na calmaria. Sem dúvida quero prosseguir numa direção cada vez mais orgânica na minha produção ou composição, usando cada vez mais ferramentas reais, instrumentos, e foco-me na emoção que se consegue atingir dum take completo, ao invés de trabalhar secção a secção. Se por vezes posso-me erguer aos pés dos gigantes, não irei repetir as passadas deles. Irei sempre percorrer o meu caminho. Claro que estes métodos são situacionais, e dependendo do que estou a fazer, a minha perspetiva pode ser mais flexível.

Queres apresentar a ideia e o conceito do poema?

Mais uma vez, sem me estender demasiado, o poema reflete a perspetiva de alguém que está na costa, junto ao farol, pois foi guiado por ele. No entanto apercebe-se que volta tudo ao mesmo. Num movimento circular, voltaremos sempre à escuridão, e necessitaremos da luz para nos guiar. Nessa dualidade assenta muito do conceito, e especificamente na decadência dos valores da interação humana com a sobrecarga de informação. No fim simplesmente movemos entre estados repetidamente, num eterno retorno, por assim dizer... A ideia é que, em última instância, talvez possamos ir além do nosso senso e não perpetuar esse ciclo, na nossa rotina. O resto fica com o que cada um retirar do projeto. 

 
 

Perspectivas para o futuro.

Continuar a trabalhar, acima de tudo. Fome não falta, honestamente, e gosto cada vez mais do fluxo de ideias que o ato da criação me permite. Vai haver sempre histórias para contar! 

Além isso, quero sempre expandir sonoridades e explorar territórios diferentes, sinto que trabalho melhor sob pressão, e por isso é que, inconscientemente me pressiono tanto a mim mesmo, mas traz resultados então será esse o lema nos próximos tempos. 

Atuações ao vivo, pensas em apresentar este projeto ao vivo?

Definitivamente. Seria uma estreia, mas sem dúvida que penso nisso, quase todos os dias. Nunca se sabe, mas tenho já algumas ideias para uma experiência imersiva das faixas, e do conceito em si.

Curiosidades sobre ti e sobre este novo projeto.

Uma realidade que neste momento enfrento é que todo este projeto, bem como outros projetos passados, e possivelmente futuros, são todos feitos, de forma quase exclusiva, no meu quarto enquanto estou em teletrabalho numa função que não me eleva de todo, tudo isto enquanto ainda concilio o tempo possível com os estudos que estou a terminar. 

Acerca deste projeto, é também curioso que todas estas faixas começaram muito de fora daquilo que é o conceito do projeto em si, mas sim como uma tentativa de materializar a inspiração que uma foto em particular, da minha namorada, a um farol na Foz do Douro, me deu. Tantas tentativas passaram de igualar a ideia que tinha na cabeça ao material que era traduzido, que passado um tempo, percebi que aquela foto singularmente estava a contribuir como uma musa, e que, apenas num frame, consegui retirar vários estados de espírito diferentes, porque me evocava várias reações. A foto acaba por estar concentrada na parte central da capa, uma vez que o farol que está lá é o farol na foto que originou tudo isto. 


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