PT
WAKE UP SLEEP EDITA NOVO ÁLBUM
‘YOU DON’T KNOW ME, I’M NOT YOUR HOMIE’
17 JULHO 2020
Design by Gonçalo Sousa
Photography by Joana Patrício
Photo-manipulation by Phlowgraphy
Wake Up Sleep edita novo álbum, ‘You Don’t Know Me, I’m Not Your Homie’ (YDKMINYH) é publicado a 17 de Julho de 2020 pela Slow Habits, Editora fundada pelo próprio, que desta vez se apresenta com conteúdo diferente do habitual, sendo uma Editora/Colectivo focada nos produtores e já com algumas edições de projectos na componente da produção (desde singles, EP’s, álbuns e compilações), fazendo também parte desse mesmo leque com dois álbuns lançados pela editora (‘Wake Up Sleep’ em 2018 e ‘What’s New’ em Fevereiro de 2020), com base no seu background pode--se afirmar que Cláudio encontra-se numa fase de expansão em que se apresenta com uma maior preparação e afirmação a nível criativo, escapando ao óbvio e à previsibilidade, talvez por influência das decisões e dos caminhos percorridos durante o período de criação de ‘YDKMINYH’ em paralelo com o desenvolver do primeiro projecto que interliga a voz ao instrumental na Editora (Chakuth, projecto musical com Lily Kashūnattsu) acaba surgindo de forma bastante natural esta visão de editar um álbum em que a abordagem dos temas já não é meramente instrumental, neste processo o artista faz a ponte entre os primórdios do seu contacto com o Hip Hop e a sua fase actual, desta vez, mais consciente dos seus métodos explora agora o universo do ritmo das palavras em conjunção com a habilidade de produzir os seus próprios beats, unificando as duas vertentes numa narrativa sonora é possível contextualizar a sua obra como sendo bastante reflexiva e introspectiva de caráter intrapessoal e interpessoal enquanto ser humano e artista neste mundo.
Wake Up Sleep é o autor das 18 faixas que compõem este novo álbum, todo o projecto foi concebido pelo próprio artista, desde a produção à composição dos temas, da mistura ao master, reforça assim um tópico importante enquanto artista independente que surge com influência dos seus próprios meios e formas de alcançar as suas metas, ‘YDKMINYH’ torna-se então uma tarefa deveras pessoal, que revela uma relação de intimidade com a música na transcrição das suas vivências e perspectivas do mundo e das relações humanas, um projecto distinto, único e inovador que envolve o ouvinte nas palavras debitadas como que se de um manifesto interior se tratasse, assumindo um caráter desconstrutivo e consequentemente progressivo, abre portas a novas abordagens e sonoridades.
É um álbum com alguma carga emocional que revela fases do artista, como a depressão, o vazio e a tristeza, expressa os seus medos e inseguranças, projetando e canalizando toda esta energia, é notável a abertura que possui em libertar-se das emoções que mais o assolam, caminhando assim para um futuro com mais clareza, nas entrelinhas é possível transpor algumas das ideias fundamentadas pelo abstracionismo de Wake Up Sleep, expressa a falta e a importância do companheirismo na actualidade e aborda também conceitos como a colectividade e o sentido de intervenção para o bem de uma comunidade, as relações interpessoais, a dualidade da dor e da consciência, a ansiedade como fonte de muitos problemas físicos e psicológicos, a raiva, a motivação, o estados de euforia e disforia, toda esta reflexão traduz-se na contradição da existência humana, o paradoxo de estarmos vivos e de presenciarmos o mundo de formas tão distintas e ao mesmo tempo tão similares, é esta a ponte que interliga o álbum ao artista num processo de autoconhecimento constante, em busca do equilíbrio da mente e do aperfeiçoamento das suas capacidades, é uma obra repleta de paralelismos e de sentidos poéticos.
Numa primeira análise, a obra parece de alguma forma abstracta, no entanto, quanto mais ouvida e absorvida, mais ela parece concreta e repleta de significados, sendo um projecto redigido sobre o P.O.V (Point Of View) do artista é natural que sejam necessárias algumas audições para se compreender na íntegra todo o conceito do álbum, no entanto existe uma magia intencionalmente gerada pelo próprio em dar ao ouvinte a permanência no estado de imaginação em alguns aspectos (o que é a música abstrata se não pensamento guardado e não expressado verbalmente entre pessoas), Wake Up Sleep quis finalmente partilhar esta criação de modo que pretendia também dar a conhecer aos seus ouvintes esta sua variante na música como intérprete e MC, incentivando e fomentando a crença no ‘eu’, na identidade pessoal, prezando a originalidade e a criatividade como foco principal no desenvolvimento da personalidade, do que realmente se destaca em cada um de nós e que de certa forma nos torna no que somos hoje, Wake Up Sleep assume que existe uma grande importância no modo como nos orgulhamos de nós próprios e dos nossos feitos.
- “A magia da Arte está naquilo que tu fazes de ti próprio, acreditarmos em nós próprios e no processo de construção é extremamente importante.” - Wake Up Sleep
Neste aspecto, o álbum é também uma compilação de recordações de coisas que Sleep queria que tivessem acontecido e não aconteceram e em simultâneo das que realmente se sucederam, encara a moralidade dos meios e das formas a que se recorrem no processo de construção de algo, fazendo referência ao crescimento pessoal e artístico como objeto de estudo construtivo e influente na cultura e no quotidiano.
Talvez poucos saibam, mas desde os 15 anos de idade que Wake Up Sleep escrevia letras e as interpretava, foi a partir do Rap que surgiu o seu primeiro contacto com a cultura Hip Hop, foi desse mesmo contato que surgiu também a necessidade de produzir os seus próprios instrumentais prolongando-se mais tarde para algo mais sério, isolando assim esta faceta que na verdade foi-se manifestando em circunstâncias específicas e aleatórias, em freestyles com amigos sempre se reactivou esta vontade inerente de usar as palavras como forma de expressão momentânea, criando motivação suficiente para chegar a casa ou no estúdio desenvolver letras que surgiam nesses mesmos instantes ou por influência de outros acontecimentos.
O álbum demorou três anos a ser concebido, algumas das faixas já tinham sido produzidas, gravadas e até publicadas enquanto Taser (antigo nome artístico de Wake Up Sleep), consequentemente a capa do projecto faz referência a si próprio enquanto adolescente entre os 17, 18 anos, reforçando a ideia de que ficou algo por fazer desde essa altura em que o contacto com o Rap estava muito mais presente.
O título do álbum assume diversos significados e múltiplos sentidos. Em primeiro, a escolha deste título ‘You Don’t Know Me, I’m Not Your Homie’, prende-se ao facto de que Wake Up Sleep expressa e revela múltiplas facetas suas, diferentes moods, várias linhas de pensamento e raciocínios que, de facto, o artista afirma que possivelmente algumas pessoas não reconhecerão muitas destas faces, mas que na verdade sempre fizeram parte da sua personalidade e que apenas só sentirá isso quem se identificar ou sentir uma espécie de afronta com a escolha do título, o artista afirma ainda que as pessoas nunca se conhecem na totalidade da sua essência, que criamos estereótipos e análises de personalidade tão rapidamente que nos esquecemos que somos todos compostos por diversas características, sujeitas a uma mutação constante, que somos de fases e não somos necessariamente uma coisa só, somos muito mais e por isso devemos libertar-nos na nossa expressão pessoal e dar liberdade a quem o faz também, devemos permitir a curiosidade de nos conhecermos enquanto seres, na partilha do dia-a-dia sermos capazes de romantizar a própria vida evitando a queda no negativismo e no conformismo.
- “As pessoas hoje em dia movem-se muito mais rapidamente por interesses supérfluos do que por conceitos como a familiaridade e a coletividade, isso revela individualismo e estamos a caminhar para uma sociedade individualista, se é que já não o somos, mas felizmente ainda existem pessoas que partilham e capricham pelo conceito de família, entreajuda e comunidade.” - Wake Up Sleep
‘You Don’t Know Me, I’m Not Your Homie’ é também dirigido para si próprio. Na foto de capa pode-se observar uma imagem do artista com os olhos removidos, simbolizando o que de certa forma ficou por ver, por conhecer.
- “Como não me vejo, não me conheço ainda.” - Wake Up Sleep
Pegando nesta citação, o artista recorre ao factor visual como elemento relevante na actualidade e disseca-o explicando:
- “A visão não traz apenas a capacidade fisiológica de ‘ver’, traz consigo também a responsabilidade de ‘ser’, e que para tal todo o ser humano precisa de passar por diversos estágios de autoconhecimento durante toda a vida para que essa visão se transforme em algo capaz de transcender os sentidos e que possa finalmente incorporar-se como fonte do conhecimento sobre nós próprios e não apenas do mundo exterior, conhecermo-nos vai para além do que vemos, é no arriscar que encontramos parte de nós mesmos, às cegas vivemos mais atentos ao que se passa na mente e isso permite-nos avançar no escuro mesmo que tropeçando, é com base na tentativa e erro que surge a necessidade de descoberta, por vezes o necessário é colocarmo-nos em contextos totalmente novos, deixar que o desconforto surja naturalmente e utilizá-lo como técnica de desbloqueio mental e físico.” - Wake Up Sleep
O artista refere que por vezes pode parecer moralista no sentido em que podem parecer ensinamentos mas que não o são, são meramente conclusões de pensamentos, observações e reflexões às quais chegou naquele momento, revelando uma parte mais humanística enquanto ser pensante.
- “O facto de por vezes insistir tanto numa coisa que pode não dar frutos faz com que surja um certo medo de poder congelar uma parte emotiva do meu ser, de certa forma pode ser uma insegurança mas no sentido mais profundo da questão gosto de pensar e sentir que preservo parte do que me torna humano pelo simples facto de que também não quero ser um robô sem consciência e sem emoções quando entro num fluxo criativo, então dou uma margem a mim próprio para perceber quando atinjo a saturação na quantidade que assumo não ser saudável para mim e talvez aí parta para outra ideia ou realmente dê como terminado o dia.” - Wake Up Sleep
- “O que é o trabalho? O que significa acreditar em algo e persistir nesse algo?” - Wake Up Sleep
Algumas das questões feitas pelo artista sobre o mundo da criatividade com o intuito de desmistificar esta tendência actual sobre o facto da sociedade fomentar tanto esta necessidade de estar numa constante produção de conteúdo com base em ideais fúteis que não trazem qualquer sentido de realização pessoal para os artistas. Persistir numa crença ideológica ou criativa precisa ir para além da superfície, é a isto que Cláudio se refere.
- “Acreditar é ser capaz de olhar para dentro, de perceber de onde vem a luz e saber como reflecti-la da melhor forma, do modo que é mais idêntico ao que somos sem qualquer necessidade de exposição imediata, a luz também precisa de impulsão na sua projecção, somos nós quem a impulsiona.” - Wake Up Sleep
O álbum conta com a participação de Lily Kashūnattsu, nas faixas ‘toofast’, ‘wont be movin’, ‘acidacid’, ‘agora é tarde’ e ‘iseeicy’ em que podemos observar a harmonia conjunta gerada pelo dois elementos que formam o duo Chakuth mas desta vez no álbum a solo de Wake Up Sleep e conta também com a participação de Lost Soul na guitarra, na faixa ‘acidacid’.
No design da capa temos Gonçalo Sousa encarregue da estética visual de ‘YDKMINYH’, fotografia de Joana Patricio e foto manipulação por Phlowgraphy.
Wake up Sleep adianta ainda que a faixa ‘bonsai’ é uma ponte para um outro projecto, um outro álbum de beats, que Wake Up sleep irá lançar muito brevemente através da Slow Habits.
STREAM / BUY