UNITED BY FRIENDSHIP COMMUNITY MIX#1

19 FEV 2021

‘Darksunn é o primeiro convidado de honra a iniciar este ‘mix series’ da Slow Habits’

Artwork por Phlowgraphy


United By Friendship surge como primeiro Motto [lema] da Slow Habits, tendo-se destacado como uma playlist do Spotify que alberga mais de 50 temas instrumentais com a grande maioria sendo produtores portugueses e da lusofonia, residentes no país ou até mesmo a viver no estrangeiro, o fundamento da criação deste Motto assim como outros lemas que estão a emergir na Slow Habits surge com o objectivo de salientar, estimular a criatividade e o dinamismo presente na cultura beatmaking, que tem vindo a crescer cada vez mais no nosso país como no resto do mundo, é uma globalidade que cada vez mais influencia toda a gama musical nos dias de hoje, fruto desta observação da cultura em Portugal, Wake Up Sleep decidiu desenvolver uma playlist com base nesta temática da amizade com o intuito de destacar produtores com dons singulares, trazendo uma vasta diversidade de talento numa playlist que une artistas de vários pontos do país e diferentes cantos no globo.

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Para reforçar o fundamento deste conceito cujo intuito é uma necessidade que se reflecte em vários aspectos do nosso dia-a-dia (enquanto artistas e participantes de dentro e fora do meio), pretende-se aqui eternizar e tornar cada vez mais aplicáveis os conceitos de: amizade, companheirismo e altruísmo dentro da comunidade e que este se reflita como influência externa também, a arte só é arte quando partilhada, o valor que lhe é colocado não é nada mais que um conjunto de percepções com diferentes leituras e o que poderia ser melhor senão o valor que lhe é dado da parte de quem nos conhece, com quem convivemos e partilhamos o nosso dia-a-dia e a nossa arte.


FACTORES QUE MOTIVARAM A CRIAÇÃO DESTE MOTTO
Texto redigido por Cláudio Martins (Wake Up Sleep)

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O propósito e a razão desta Playlist se ter estabelecido no Spotify deve-se a vários factores, em primeiro lugar esta iniciativa surge pelo facto de não existir de momento nenhuma playlist dedicada a expor trabalhos de produtores e beatmakers que traga a possibilidade  de exposição e reconhecimento de novos artistas na lusofonia, seja nas várias regiões do país ou arredores, estes artistas na grande maioria das vezes acabam situados num certo nicho da cultura, talvez por consequência de sermos muitos nas diferentes vertentes, a produção não foge à regra, desta forma torna-se inevitável não surgir uma relação de empatia e de identificação entre membros e participantes da cultura beatmaking, formando-se assim uma subcultura com uma base comunitária bastante forte e proactiva.

Devido a este posicionamento ‘não intencional’, a playlist surge com a intenção de acentuar o valor que todos estes artistas preservam e representam, recolocando as suas obras dentro da nossa esfera e recriando assim um novo movimento.


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Em segundo lugar, após o statement do CEO do Spotify afirmar que os artistas devem trabalhar mais e que não podem esperar que por publicarem uma obra no período de 3 ou 4 anos traga algum tipo de rendimento económico é deveras preocupante e alarmante, este argumento coloca o artista sobre o facto de que se este não obtém rendimento suficiente para viver da sua música então este tem e deve sujeitar-se ainda mais ao conceito de produção em massa, a possibilidade de imaginar um artista sendo escravo de uma plataforma como esta, a fim de alcançar o seu sonho, colocando a sua arte e a sua integridade enquanto ser humano em risco causa grande desconcerto por estas bandas.

“Spotify does not disclose how much it pays artists per stream, but analysts have calculated it at about $0.00318, meaning that a rights holder would receive $3.18 (£2.74) per 1,000 streams.” - The Guardian

Para muitos de nós que partilhamos de visões bastante similares de volta deste tema, sabemos à partida que viver o ‘sonho americano’ não é nada mais que um sonho, uma utopia distante, sem esquecer que falamos da vertente beatmaking que acresce muito mais a exclusividade de atingir esse ‘ultimate goal’ que todo o artista sonha um dia, sabemos que muito poucos poderão ter esta súbita ‘sorte’ de transpor determinadas barreiras, mas talvez com a evolução dos tempos isso esteja a mudar, é acreditar que sim. 

Sem querer nunca despertar o desespero inerente à crença de um artista que acredita piamente nas suas capacidades e que sabe o grau de sucesso que pretende atingir, a relação exposta neste raciocínio explicita apenas que deve existir uma forte ligação entre o indivíduo e a comunidade que este frequenta, quase como a ideia de comércio local, se existir esta consciência de que dependemos de um ecossistema e que este sistema que está ‘right next to us’, ao virar da esquina, reflecte todo o núcleo de trabalho que tem sido desenvolvido em torno desta disciplina que é a música, por todos nós, torna-se realmente valioso observar o crescimento e o efeito deste comportamento na cultura, muito mais que repor fatores econômicos a nosso favor, moldar o ambiente e as circunstâncias em que vivemos com base a estimular e a reconstruir novas perspectivas reformulando assim também a percepção que se tem do meio artístico (até de um modo geral), acabamos por conseguir intervir de forma mais consistente e efetiva, United by Friendship transmite esta força de cooperação necessária em que a moeda de troca é a interacção, a transferência de valores e a própria colectividade em si.


Em terceiro lugar, a pandemia, estamos a viver um momento único nas nossas vidas que é comum a todos, toda a comunidade está a sofrer do mesmo, estamos limitados aos mesmos recursos, uns mais que outros até, esta questão que se transpõe em inúmeras proporções distintas, em paralelo com tudo o que se passa ao nosso redor, afecta todos os que estão a tentar sobreviver sob a consequência de uma causa tão trágica e catastrófica para as suas vidas pessoais e profissionais, as rotinas foram repostas, reestruturadas para o home working, as ruas estão mais vazias como nunca vimos, as pessoas distantes e a única forma de ter algum tipo de contacto humano é a partir de um ecrã que reflecte a luz do lado de lá, a dependência tecnológica aumentou drasticamente, inevitavelmente damos por nós à procura de interacção com amizades que agora se mantém por conta do distanciamento social, o convívio diário num espaço físico tornou-se obsoleto, a possibilidade de nos encontrarmos em festas e eventos foi extremamente reduzida senão anulada.

Com isto fomos empurrados para as nossas casas, para os nossos home studios, no nosso conforto mantém-se o estímulo da sociabilidade colocado agora em standby, com a particularidade de que a vida para muitos de nós já se reflectia de certo modo neste ciclo de enclausuramento quando o foco é criar arte, neste caso, a música e a sua produção exigem na grande maioria das vezes, períodos curtos ou mais longos de auto-isolamento (tanto para um indivíduo ou grupo de indivíduos), como se de ciência laboratorial se tratasse, o processo de descoberta e concretização de ideias requer uma extensa resistência mental para lidar com o tal sentimento de solidão ou sensação de estar isolado num espectro diminuto, afastado da sociedade por iniciativa própria mas com a consciência de que o exterior também é uma necessidade para manter um ciclo saudável para a criação, esta relação de equilíbrio entre o que está disponível no exterior para nossa recriação e o que nos é auto-imposto quando estamos no limiar do autofoco é bastante relevante porque não foi necessariamente o que a pandemia trouxe, pelo contrário, a incapacidade e a desestabilização imposta por esta circunstância de todo que pode ser vista como algo natural ou previsível de acontecer, então transfigura-se a evidência de que é essencial filtrar determinados medos, inseguranças e incertezas que nos reprovam à impossibilidade de não podermos continuar a fazer o que realmente amamos, música.

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Isto leva-nos à quarta e última razão central desta etapa da United by Friendship, a música, o transporte que une e fortalece laços de amizade gerados a partir de uma linguagem universal, comum a todos, a música instrumental, na qual não reside a necessidade de atribuição de palavras para reforçar o seu sentido mas que se assume desde o seus primórdios como uma vasta rede de comunicação abstrata que nasce a partir do som, ritmos, melodias e harmonias que ressoam através da mente, do corpo e do espírito, a vibração que desperta na alma a capacidade de experienciar sensações, emoções e sentimentos, outrora rituais praticados que suscitaram a aproximação com a divindade, com o desconhecido, um suposto ‘higher power’, a música possui a capacidade de transcender as barreiras da lógica, espacial e temporal, a profundidade com que podemos experienciar esta doutrina ancestral traduz-se agora numa prática cada vez mais comum na atualidade, todo o processo metamórfico no aperfeiçoamento desta arte requer também uma responsabilidade absoluta sob a nossa espécie, a consciencialização do seu verdadeiro poder permanece na nossa comunidade como uma dádiva que todos adquirimos ao descobri-la, todos podemos criá-la, os padrões estão aqui, prontos a serem descobertos e descodificados em obras de pesquisa sonora a partir de diferentes percepções e lugares. 

A música eleva a poesia, é essa a energia que se arrasta por entre as palavras debitadas neste texto, tanto a amizade como a música subsistem apenas no estado de uma relação próspera e simbiótica, tanto os amigos como a pulsação de um beat necessitam obter resposta para tornar real a sua coexistência e estabelecer por fim que o que importa está nas entrelinhas, no espaço entre os elementos, no silêncio que revoga à consciência de que sem um não existe o outro, na amizade partilha-se a linguagem da música, o silêncio, a aceitação.


Sendo assim, prosseguiu-se com a ideia de transformar esta Playlist Comunitária do Spotify num mix que apresenta a coerência e diversidade por diferentes trilhas sonoras, o objectivo inicial na concretização desta iniciativa seria reunir as primeiras 50 músicas adicionadas à playlist (por ordem de adição) num mix, desafiando a seguir um DJ com a capacidade de unir todas estas obras instrumentais numa espécie de ‘Beat Set’ e como primeiro convidado tivemos a maior honra e dever de incluir uma figura bastante representativa da cultura, membro indispensável no movimento, CEO de uma das mais consagradas Editoras em Portugal que difundem em grande união e sincronia colectiva esta vertente da música instrumental que muitos amam e dedicam a sua vida, o nosso convidado é Darksunn, fundador do Colectivo Monster Jinx, produtor e DJ com um background de experiência deveras vasto, criador do programa de rádio independente ‘Tape Delay Almada’, referência forte no panorama da cultura beatmaking, não haveria forma mais certa de iniciar este primeiro episódio se não com o OG da beat scene tuga.

 
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UNITED BY FRIENDSHIP COMMUNITY MIX #1 | COM DARKSUNN
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