PT
WAKE UP SLEEP EDITA NOVO ÁLBUM
’Im Sorry’ é o album com que o produtor inicia o ano de 2022 pela Slow Habits’
2 Fevereiro 2022
Wake Up Sleep tem vindo a deixar cada vez mais evidente uma clareza pós desconstrutiva na sua produção, depois de ‘You Don’t Know Me, I’m Not Your Homie’, projecto editado em 2020, onde deposita parte da sua complexidade criativa e pesquisa sonora sob tonalidades soturnas, com cadência para a imprevisibilidade jazzística, redige composições vocais em consolidação harmónica com as batidas e melodias, enquanto deambula por entre o devaneio e a constatação, em temas sobre introspecção, isolamento e observação de aspectos da vida remotos ao que possa ser considerado casual pelos ‘demais’.


Em 'I'm Sorry', álbum com que inicia o ano de 2022, Wake Up Sleep remonta a uma fase de desconstrução e reformulação das suas obras, estágio da vida este coincidente com um crescimento auto-analitico sobre si mesmo.
Neste projecto o artista dispõe de 11 instrumentais carregados de uma tensão do momento, conduz o ouvinte numa leveza de ambientes nebulosos e texturas envolventes em sincronia com o beat, moduladas através de alternâncias constantes nos ritmos e seus componentes. Cada faixa é dotada de um crescendo natural, de uma espécie de apogeu que culmina muitas das vezes num excesso ou exacerbação da acção dos elementos presentes, em ‘how to’ o artista pronuncia-se imperamente sob a linguagem da percussão, nesta abordagem assume o controlo da progressão do tema utilizando kicks, snares e hats que se contrapõem entre si de forma predominante, criando variações ao longo da faixa, nas teclas, é o próprio que manobra os acordes densos e melodias disformes sob a base da improvisação, preenchendo uma gama de frequências vasta num universo surrealista, do mundo do sonho e da hipersensibilidade.
Uns tempos antes da pandemia se intensificar o artista enveredou pela concretização e finalização de projectos antigos, álbuns que ficaram por finalizar após processos de criação intensivos, 'I'm Sorry' é uma das obras que conseguiu por fim ver a luz do dia, numa espécie de declaração poética o autor traça um compêndio de faixas que de forma subjetiva abordam as temáticas do 'perdão' e da ‘gratidão’.




“Uma retrospectiva sobre o passado, presente e futuro”
Wake Up Sleep retrata que muitos dos seus álbuns são sempre uma espécie de viagem em retrospectiva com particularidades do passado, presente e futuro, um ritual ao qual está habituado a conjugar com seu processo criativo e técnico na sua produção.
“Sinto que o que desencadeia esta sensação de enraizamento profundo com a música são sem dúvida as minhas origens e vivências ligadas a ela, isso é algo que me transcende, e sei que serei sempre levado por essa transversalidade.” - Wake Up Sleep.
A música como objeto de estudo é algo que está sempre presente em background durante o seu processo criativo e/ou técnico, parafraseando o artista, é deveras revelador compreender que o som ou a arte em geral, dão-nos a capacidade de atravessar os mais diversos espectros da cognição e da espiritualidade, curiosidades que deixam o artista intrigado sobre este universo multidimensional que paira sob os nossos sonhos.
"Às vezes… de facto, muitas vezes, a obra de arte sabe mais do que o artista e isto é porque as obras usam mais do que apenas o consciente. Vêm de lugares cuja existência os artistas desconhecem. Isto fascina-me imenso, aquilo que a arte pode ser. Há certas obras que superam o artista por completo”.- Siri Hustvedt.
Para Sleep, as palavras de Siri, debitadas no documentário ‘O Valor da Liberdade’, desvendam nitidamente o que acontece no seu processo de composição, pois este afirma que no seu mais ínfimo momento de criação sente-se muitas das vezes para lá de si próprio.
O artista revela uma noção aprofundada nas suas teorias sobre o significado inerte da música no ouvido humano, neste nevoeiro de questões que pairam sob o seu estado de espírito, Wake Up Sleep recorre à intuição a fim de estabelecer um ‘deeper meaning’ sobre esta matéria, por meio de conceitos como: ‘channeling’, alteridade e empatia, emergem as mais distintas e autênticas obras musicais.
“Com este álbum sinto que fiz mais uma travessia, deixei-me envolver por completo, aprendi a gerir a energia e a canalizar o foco que dou às coisas.” - Wake Up Sleep.


Sobre I’m Sorry
“O título é quase que uma incitação, sussurro ou eco, foi dessa forma que nasceu o conceito na minha cabeça, a curiosidade na sua exploração foi certamente por ser uma frase tão curta de se dizer, o seu meaning e estética intrigaram-me, precisei compreender a relação que surgia com esta frase, que de alguma forma contribuiu para a conceptualização deste álbum.
A expressão ‘Sinto muito, mas sinto muito’ justifica bastante a escolha do título, enfatiza a ideia de dualidade e multiplicidade dos sentidos, sentimentos e emoções, ‘Im Sorry’ é uma frase à qual atribuo esse significado.
É uma frase repetida por tanta gente, dita em tantos lugares, possivelmente é mais utilizada do que pensamos, nas mais e impensáveis circunstâncias, foi de certa forma o acessório ou adereço para o retrato subentendido nas relações sociais, nas trocas e conflitos entre seres humanos e natureza.” - Wake Up Sleep.
Em 'Error, instrumental que transborda de agitação rítmica, o artista reflecte a sua visão de destruição e caos, desconstrói a paisagem sônica através de quebras e silêncios no decurso da faixa, numa atmosfera saturada pela instrumentação, progressão e alternâncias repentinas, é possível compreender como seria a materialização do som de um ‘erro’’ para Sleep, uma espécie de luta de forças sincronizada que culmina na extinção do ‘erro’ ou auto destruição do mesmo, tratando-se por fim de uma simples libertação eufórica de emoções condensadas num corpo.
"Este álbum foi concebido nos primórdios de 2018, pelo que já se passaram alguns anos desde que ganhei coragem para remisturá-lo e recompô-lo, confesso que quando dei conta do trabalho que tinha pela frente, atendendo às exigências que impus a mim próprio, percebi que este projecto não iria ser tão fácil de concretizar quanto outros, tive muitas dúvidas sobre o seu release e precisei mesmo passar por uma fase de overthinking intensivo para conseguir reconstruir a visão que tinha dele na altura, porque passado todo esse tempo, e no meio de toda a música que produzi, entretanto as bases que tinha formado inicialmente tornaram-se meio ‘foggy’ na minha mente e foi aí que decidi reestruturá-lo e libertá-lo por fim.
Passei pelo que chamo de ‘paranóia criativa’, que no entanto, é para mim, um conceito importante e estimulante na sua própria exploração, que me levou a resultados inesperados. A resiliência e persistência na procura dos sons desejáveis são a chave para atingirmos novos progressos e conquistas, assim como a reestruturação das bases com que ficamos a cada fase de criação, esta é uma das lições que retiro após a concepção deste álbum.
Tenho uma necessidade incessante de tentar compreender a sequência das coisas, de entender a sua ordem e função para que as possa desconstruir depois.
Gosto de pensar na ideia de que através de um processo desconstrutivo seja possível trespassar determinadas barreiras temporais e espaciais, por se estar de alguma forma sob o estímulo da receptividade a diferentes tipos de sensibilidade.” - Wake Up Sleep
Curiosidades técnicas
Im Sorry foi produzida inteiramente no Ableton 9, dei uso de várias máquinas, como a RC-505 na construção de alguns loops e texturas, a SP404SX maioritariamente para modulação de efeitos e alguns shots de samples, um teclado YAMAHA antigo, que na verdade foi desse mesmo teclado que se definiu a sonoridade geral do álbum, mesmo depois de toda a pós produção, processamento, entre outros processos de aprimoração das faixas, como a adição de sons do meu CASIO, os sons reproduzidos por esse teclado terão sempre uma nostalgia impressa neles, da qual recuo no tempo sempre que os escuto, sendo este o meu primeiro keyboard de 49 teclas de sempre, tenho um apego emocional por todos estes beats também por isso. De resto foi muito trabalho de rato, corte e costura, utilização de VST’s e efeitos que procurei utilizar de forma bastante transparente no overall.
Nos drum patterns procurei por um tipo de excitement e tightness que provocassem de certa forma no ouvido e no corpo uma sensação de aceleração e abrandamento simultâneo, tudo isto através de jogos de contratempos, duplicação de elementos e de gravações ‘off grid’, o layering de percussões e melodias permitiu intensificar a densidade de que alguns dos beats necessitavam anteriormente, a utilização de plugins como Doublers, emuladores de tape como o J37 e outros mais como o Izotope Thrash, foram ferramentas bastante úteis na concepção da imagem stereo final, no controlo da energia dos instrumentos e texturas que utilizei para colorir ou tornar a diferença entre os espaços vazios e preenchidos superior.
Na criação das composições melódicas baseei-me inteiramente numa construção improvisada e espontânea, com influências fortes do jazz, procuro sempre numa melodia ou progressão de acordes criada por mim, aquele feeling de que foi um dos meus pianistas preferidos a executar tal feito, quando isso acontece sei que é um daqueles beats dos quais vou andar em loop durante algum tempo.
Tecnicamente foi bastante revelador para mim, todo o procedimento e métodos que dissequei deste álbum tornaram-se literalmente parte do meu mindset e workflow actuais, passei a explorar ainda mais o conceito de simplicidade, contudo esse mesmo conceito ajudou-me a reflectir bastante sobre a ideia de música livre, que a música em si por vezes não necessita de qualquer análise sobre a sua natureza, no entanto esta questão é subjectiva de tal forma que apenas a coloco para mexer com as ideias de quem estiver a ler este artigo. Possivelmente todo o ‘overprocessing’ e ‘over analysis’ sobre o meu próprio som possa apenas ter sido um simples reflexo dos tempos modernos, dos parâmetros e standards que nos são impostos a ponto de questionarmos a qualidade do trabalho que fazemos, é válido e é necessário fazer esse tipo de rastreios, mas admito que sofri de algum modo com essa premissa, no entanto estabeleci para mim próprio um mote de exigências às quais posso associar a minha noção de liberdade plena e agrada-me poder trabalhar nesse espectro da música e das artes.
WAKE UP SLEEP - IM SORRY [COMPRA DIGITAL]
STREAM / COMPRA